Que as cores influenciam psicologicamente as pessoas por meio das emoções muita gente sabe! Elas são capazes de acalmar, estimular e até mesmo curar algumas doenças. É o que explica a neurocientista e especialista no assunto, Shirlei Camargo.
Mas não é só ela quem sustenta a afirmação: “Existem experimentos que comprovaram o poder da influência das cores. Em uma pesquisa, dois ambientes exatamente iguais, com os mesmos móveis e a mesma decoração, tinham cores diferentes. Um deles tinha tons de vermelho; o outro, de azul. A pesquisa consistia em pedir para que as pessoas ficassem nesses ambientes por algum tempo e relatassem como se sentiam”, relata Shirlei.
“No quarto com tons vermelhos, as pessoas afirmavam que se sentiam agitadas, ansiosas. Já no quarto azul, calmas e relaxadas. Perceba que o único elemento que mudava de um quarto para o outro era a cor. Ou seja, elas, de fato, nos transmitem diferentes sensações”, conclui.
O mais curioso é que quem começou a analisar os efeitos das cores no cérebro humano foi um poeta, Johann Wolfgang von Goethe, em 1810. Ele foi a primeira pessoa a estudar as cores para além de um mero fenômeno físico.
Goethe defendia que as sensações que as cores despertam em nós surgem na nossa mente e são lapidadas pela nossa percepção, ou seja, pela visão e pelo cérebro. Antes dele, só quem havia estudado as cores, no século XVII, era Isaac Newton. O físico estudou as luzes e as cores, reproduzindo um arco-íris por meio da luz solar através de prismas e lentes, resumindo o fenômeno às leis da física – o que, obviamente, não deixa de ser muito válido.
O impacto da psicologia das cores na comunicação visual
Mas sabia que as cores também podem ajudar nas vendas? Shirlei conta um exemplo: “Uma antiga marca de um produto de limpeza de pele, o Leite de Rosas, sempre foi reconhecida pelo seu tom de rosa característico. Há alguns anos, ao ampliar seu mercado de atuação, eles resolveram produzir desodorantes roll-on. Porém, lançaram na cor branca. Vendiam entre 15 e 30 mil embalagens por mês, contudo, quando optaram por mudar a cor da embalagem para o rosa tradicional, as vendas subiram para 100 mil unidades por mês. Eles só mudaram a cor”.
A especialista reforça: “Isso nos mostra o quanto é essencial, no momento de criar uma embalagem, um site, um post ou uma logomarca, pensar com muito cuidado nas cores que serão utilizadas”.
Falando de varejo, especificamente, a primeira divisão entre cores que se pode fazer, a fim de entender qual é a melhor para o seu segmento, é entre as cores quentes e frias, conforme explica Shirlei.
Entendendo o efeito das cores quentes e frias
As cores quentes estimulam o observador. Elas causam uma sensação de calor, aproximação, euforia. A temperatura do corpo é ligeiramente aumentada em sua presença. Suas tonalidades tendem para o amarelo e para a combinação dos tons alaranjados e avermelhados, indo para o magenta.
Em ambientes varejistas, essas cores encorajam decisões rápidas e compras com baixo envolvimento, como produtos com baixo valor ou comprados frequentemente.
As cores frias são aquelas que “puxam” para a cor azul e para a combinação verde, azul e violeta. Elas são calmantes, às vezes melancólicas. Isto porque causam uma ligeira queda na temperatura do corpo. São mais “distantes”, indiferentes e formais.
As cores frias são favoráveis quando clientes precisam de tempo para tomar decisões, como compras de alto índice de envolvimento. Por exemplo, produtos mais caros e comprados em ocasiões mais especiais.
Percepções e emoções associadas a cada uma das cores
Ainda de acordo com Shirlei Camargo, embora as pessoas possam ter diferentes preferências em relação a cores, as sensações transmitidas pelas cores são generalizadas. “Inclusive, segundo Marie Louise Lacy, uma estudiosa do tema, há pesquisas que dizem que 60% da reação de um indivíduo, em qualquer situação, é referente a cores”, diz.
Confira a seguir as emoções associadas às principais cores:
Vermelho: Chama a atenção, traz ousadia e poder. Mas, em exagero, pode estimular a insensibilidade e até a violência.
Laranja: Deixa as pessoas mais confiantes, estimula a criatividade e a comunicação.
Azul claro: Relaxa e acalma, mas, em exagero, pode causar sonolência.
Roxo: É a cor mais poderosa. Estimula a musicalidade, as artes e também é associada a ideias nobres.
Branco: Realça todas as demais cores.
Preto: É imponente quando usado com outras cores, mas sozinho traz preponderância, insensibilidade.
Verde: É a cor do equilíbrio, ajuda a reduzir a tensão e o stress.
Amarelo: Ativa a mente, deixa as pessoas mais alertas. Mas o amarelo escuro, em exagero, pode causar pessimismo e negatividade.
Dicas para aplicar a psicologia das cores na comunicação visual de forma eficaz
Mas como aplicar as cores na comunicação visual para garantir, de fato, um resultado eficiente?
Shirlei detalha que a primeira coisa a fazer é refletir sobre o público-alvo do produto ou serviço: “Qual é a faixa etária? Por exemplo, o público jovem gosta de cores fortes e de preferência quentes”, explica.
Ela ainda reforça que também é necessário analisar se o produto ou serviço é específico para algum gênero: “Por causa dos nossos antepassados, sabemos que as mulheres preferem formas e cores, pois suas ancestrais eram ‘coletoras’ (coletavam coisas na natureza). Por outro lado, os homens, devido às suas origens de caçadores, preferem movimento e cores fortes”.
Além disso, é importante pensar no objetivo da comunicação. “Se a empresa quer passar uma ideia de seriedade, deve-se usar cores mais sóbrias como cinza, verde-escuro, azul-escuro, preto e vinho”, explica Shirlei. “Mas, caso a intenção seja chamar a atenção, vermelho e amarelo são excelentes, mas o designer deve sempre, antes de usá-las, analisar se serão adequadas ao produto, público, cliente, conceito, etc.”, conclui.
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