No dia 21 de abril comemora-se o Dia do Têxtil. E você sabe a importância deste setor para o cenário mundial? De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a industria têxtil do Brasil tem destaque no mundo todo não apenas por seu profissionalismo, criatividade e tecnologia, mas também pelas dimensões de seu parque têxtil: é a quinta maior indústria têxtil do mundo, o segundo maior produtor de denim e o terceiro na produção de malhas. E diz mais: autossuficiente na produção de algodão, o Brasil produz cerca de 9,04 bilhões em peças de vestuário, sendo referência mundial em beachwear, jeanswear e homewear. Outros segmentos também vêm ganhando mercado internacional como a moda feminina, masculina, infantil, além do fitness e moda íntima.
A Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais vê este mercado como muito complexo e diverso: “algumas indústrias possuem todas as etapas do processo de produção como fiação, tecelagem e beneficiamento, ou apenas atuam em um deles. Há ainda os processos de produção intermediários, como por exemplo engomadeira ou engomagem”, diz em seu portal.
Vale destacar também o quanto este segmento é um forte gerador de emprego. No Brasil são 1,34 milhões de empregados, 16,7% dos empregos, 2% do PIB nacional (2022), faturamento de R$161 bilhões (2020).
Na Índia (14% do mercado, segundo exportador de roupas do mundo) são 45 milhões de trabalhadores diretos e 60 milhões indiretos. Na China, o maior fabricante e exportador (46% do mercado mundial) são 15 milhões de trabalhadores.
Herculano Ferreira, diretor criativo da ArtZone – Arte & Tecnologia e especialista no assunto, explica que “grande parte da diferença proporcional entre os exemplos acima (Brasil, Índia e China) se deve ao maior volume de tecnologia embarcada na atividade industrial chinesa”.
Os impactos da Indústria têxtil
Apesar de números tão importantes para economia, a indústria também é muito conhecida pelos seus impactos ambientais. E isso precisa ser dito e discutido em todas as esferas. De acordo com a Internacional Global Fashion, nos últimos anos foram mais de 90 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartados, e a projeção dos próximos oito anos é que esse número chegue a 140 milhões de toneladas.
De acordo com Herculano, a indústria têxtil é o segundo ou terceiro maior poluidor do ambiente natural, mas que nem sempre foi assim. “Esta posição vem se firmando nos últimos 30 anos por causa da combinação de vários fatores e agentes que podemos resumir sob o título genérico de ‘Cadeia de agentes poluidores da indústria têxtil’’, diz o especialista. Mas o que seria isso? Ele explica:
- O desenvolvimento dos polímeros e fibras sintéticas, notadamente o poliéster, tem uma grande participação na deterioração ambiental causada pelos artigos não só têxteis. O mundo está repleto de lixo de polímeros sintéticos (plásticos industriais) – polietileno, poliestireno e muito poliéster. Apesar de muitos serem recicláveis, a grande maioria do lixo polimérico é simplesmente descartada no solo e nas águas.
- A solução da poluição ambiental causada pela indústria têxtil e suas atividades relacionadas é muito complexa e em resumo só se resolveria com um decréscimo drástico do consumo, associando uso prolongado das roupas que compramos. (Tipicamente uma roupa deveria ser usada entre 200 e 300 vezes. Isso equivale a 20 a 30 anos de vida útil para uma roupa de algodão, considerando a quantidade de roupas que acumulamos na vida. E 40% do que é vendido no mundo é usado uma vez. Mais de 50% do que é fabricado não é vendido e vai para lixões ou é queimado.
A indústria têxtil pode ter mais sustentabilidade?
Atualmente, as tecnologias vêm ajudando a melhorar esse setor, como as técnicas de impressão digital que reduzem a quantidade de água e de materiais tóxicos utilizados. O desenvolvimento de tecidos modernos e materiais reutilizados também vieram como suporte. Mas para Herculano, o que é extremamente necessário é a conscientização sobre consumo. O quanto dura as peças que você compra? Você compra só o que é necessário ou sempre que pode compra uma blusinha nova? Esses questionamentos são importantes para entender conceitos novos, como o de “slow fashion”, que vem crescendo aos poucos, mas que diz muito sobre como consumir.
O especialista explica a diferença de conceitos:
Fast fashion:
significa moda rápida. É um modelo de produção e consumo de moda que visa produzir roupas em grande quantidade e a baixo custo para atender a demanda do mercado em tempo recorde.
Slow fashion:
significa moda desacelerada. É um movimento que preza pela produção de roupas de forma mais consciente e sustentável, com foco na qualidade e durabilidade das peças.
“Ou seja, a slow fashion tem como base a compra consciente de menos roupas, aquisições de alta qualidade e duráveis, que visam menos descarte, mais conserto, redesign, redirecionamento e trocas entre usuários. Tudo isso em favor de menos lixo no meio ambiente, menor uso de matérias primas, venenos na cultura do algodão, químicos na industrialização e preservação a água, do solo e do ar. Fast fashion é o contrário destas premissas e está muito, muito longe de se comprometer com elas. A produção de roupas não polui apenas com emissão de carbono. Para produzir fibras têxteis é preciso desmatar, utilizar fertilizantes, agrotóxicos, extrair petróleo e isso tudo causa enormes danos no ambiente e, consequentemente, em todas as formas de vida”, conta Herculano.
As marcas estão mais conscientes?
É inegável que cada vez mais pequenas marcas surgem com o objetivo de ser mais sustentável e incentivar uma moda mais consciente. Para o profissional, apesar de muito difícil, é extremamente importante que essa conscientização ocorra por vontade natural também das grandes marcas, fast fashion e fabricantes de qualquer tamanho. “Todos querem crescer e vender mais e mais. A esperança do mundo era a Geração Z (nascidos entre 1995 a 2012), uma geração que afirma ser francamente a favor de um mundo limpo, uma indústria responsável, verde e sustentável, mas na prática é a maior consumidora do fast fashion, um modelo e uma roupa altamente danosos ao planeta. Este é um quadro extremamente preocupante”, diz.
O futuro da indústria têxtil
O poliéster (mais de 60% das fibras têxteis usadas hoje), segundo Herculano, deve representar algo em torno de 80% das fibras usadas em roupas por volta de 2030, 2040. “Isso é muito grave porque a maioria dos microplásticos que hoje poluem todos os mares e grande parte das águas e solo do mundo vem do poliéster. Para resolver a destruição ambiental que está em marcha, a indústria de roupas deveria abandonar ou reduzir o uso de poliéster e de viscose. Mas isso é difícil com o crescimento das empresas fast fashion, um dos principais contribuintes para a poluição do meio ambiente, que usa principalmente o poliéster e viscose em suas roupas”, diz o profissional.
E se o mercado focasse em fibras naturais? Há algum tempo o algodão vem roubando a cena quando o assunto é moda. Em 2016, uma das primeiras bandeiras do Movimento Sou de Algodão era apresentar os benefícios da fibra natural, especialmente nos dias de calor, já que ele garante maior conforto térmico, evita alergias e ainda é mais durável e, consequentemente, mais sustentável, por natureza. Nesse caso, é incentivado o uso do algodão orgânico, obtido por meio de um tipo de plantação e manejo de solo onde se respeita a natureza. “Na sua produção, não podem ser utilizadas sementes transgênicas nem produtos nocivos. É a partir do equilíbrio biológico do solo que se obtém o controle de pragas e uma produção com melhor rendimento”, explica Andreia Yammine, especialista no assunto e criadora da Yannick, marca especializada em tecidos 100% orgânicos. – leia mais sobre o assunto aqui!
Mas quando se fala em produção em massa e da forma que existe hoje, Herculano apresenta problema reais: a cultura do algodão (35 a 40% das fibras usadas em roupas está relacionada com o uso de 97% das águas do Rio Indo, que atravessa o território de três países, China, Índia e Paquistão. Para se ter ideia, uma simples camiseta acarreta o consumo de 2.700 litros de água, suficientes para matar a sede de uma pessoa durante dois anos e meio. Um quilo de fibra de algodão consome 2.700 litros de água até que seja colhido. Especialistas estimam que o algodão consome oito milhões de toneladas de fertilizantes sintéticos e 200.000 toneladas de pesticidas globalmente a cada ano. Isso equivale a 24% e 11% dos inseticidas e pesticidas do mundo, respectivamente.
Diante de tudo isso, o especialista acredita que a única solução é o consumidor comprar menos coisas que não usa. “Creio também que o mais importante para a indústria têxtil é a revisão de si própria, de suas metas, números e ambições”, finaliza.
E você, o que acha? Que tal entender cada vez sobre o consumo consciente e sustentável