Além desses segmentos, ainda existem as mulheres que representam outra parte importante dos negócios: o empreendedorismo. De acordo com o Sebrae (2022), o percentual de mulheres empreendedoras em relação ao total de negócios atingiu mais de 34%, somando mais de 10 milhões de mulheres líderes de seus negócios.

Em seus mais diversos mercados de atuação, essas mulheres atuam como um grande ponto de partida para mudança e inovação, impactando e inspirando outras mulheres ao redor. E por aqui na Feira FuturePrint, não é diferente. Recebemos centenas de empreendedoras que buscam novas soluções e inovações para seus negócios todos os anos, visitando a FuturePrint e fazendo muito networking.

No mês em que se comemora o dia da mulher, nada mais inspirador do que compartilhar a história de mulheres que trabalham nesta indústria e fazem a diferença com seu trabalho. Pensando nisso, a FuturePrint Digital preparou a série especial “Mulheres Empreendedoras”, com a participação especial de nossas embaixadoras digitais, que também são empreendedoras dos setores presentes na feira!

No primeiro artigo da série, entrevistamos Mila Sanchez, do Studio Mila Sanchez! A empreendedora do setor têxtil, na área do design de estampas, dividiu conosco sua jornada no mundo da moda – desde os estudos até iniciar o processo para empreender e construir o próprio negócio.

Participação feminina na Indústria Têxtil

O Brasil possui grande destaque na indústria têxtil mundial. De acordo com dados do Estudo Mulheres na Confecção, da ONU (2022), somando a participação da indústria têxtil ao setor de confecção, temos 16,7% dos empregos da indústria de transformação no país. E, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), 60% da mão de obra é preenchida por mulheres.

A mão de obra das mulheres participa amplamente de todo processo produção, no entanto, destaca-se principalmente nas etapas de cultivo e colheita de matéria, confecção e atividades de varejo.

Uma das mulheres empreendedoras deste setor é Mila Sanchez! Formada em têxtil e moda na USP, já trabalhou com marketing digital e produção de moda, e, decidiu empreender com o Studio Mila Sanchez, especializado em estamparia voltada para moda e decoração.

Mila enfrentou diversos desafios durante sua vivência no mercado. “Depois de pedir demissão por estar com crises de pânico por cobranças tóxicas, que vi uma possibilidade de entrar na estamparia usando meu conhecimento e experiência de marketing digital”, pontua.

Além disso, a designer de estampas também relata os desafios sobre ser ouvida e enxergada como uma profissional referência, mesmo tendo vasta experiência na área. “Eu não era levada à sério […] hoje me sinto mais escutada, mas ainda existe dificuldade”, explica.

Ainda assim, Mila conta que utiliza esses momentos para impulsionar sua carreira: “Para mim, sempre que escuto ou passo por alguma experiência dessas, uso-as para me impulsionar ainda mais e mostrar que sou ainda melhor”.

Por isso, além de desenvolver o Studio Mila Sanchez, ela também compartilha sua experiência através de cursos profissionalizantes e mentorias para quem quer entrar para o mundo do empreendedorismo no design de estampas. “A nossa área precisa de novas empreendedoras talentosas e que mudem o olhar profissional do mercado para valorizar ainda mais as mulheres!”, comenta. Hoje, Mila também é uma das embaixadoras digitais FuturePrint e palestrante dos fóruns que acontecem durante o evento!

Confira a seguir a entrevista na íntegra! Além de conhecer toda história da Mila, você descobrirá tendências e anotará dicas valiosas de uma profissional com mais de 10 anos de experiência no mercado!


Redação FuturePrint (FTP): Para começar, poderia nos contar um pouco sobre sua formação e como surgiu seu interesse pela área têxtil e de estamparia?

Mila Sanchez (MS): Desde nova, sempre gostei de trabalhar com artes e ilustrações, foi por isso que formei na Universidade de São Paulo (USP) em têxtil e moda. Mas não queria ser estilista, queria estar numa área mais artística. Com isso, trabalhei com outras áreas da moda antes de ir para estamparia (marketing, consultoria de estilo e produção de moda/desfiles como SPFW) e ao mesmo tempo continuava estudando e melhorando na parte de criação de estampas, mesmo sem saber como entrar na área. Foi no meu único trabalho de carteira assinada, depois de pedir demissão por estar com crises de pânico por cobranças tóxicas, que vi uma possibilidade de entrar na estamparia usando meu conhecimento e experiência de marketing digital. Criei meu Instagram, continuei criando estampas através dos cursos que eu já tinha comprado e desde então, trabalho na área.

FTP: Antes de fundar o Studio Mila Sanchez, você trabalhou com marketing digital, consultoria de estilo e produção de moda. Como essas experiências anteriores contribuíram para o seu empreendimento atual?

MS: As minhas experiências nessas outras áreas me formaram como empreendedora, principalmente porque tive um contato maior com funções dentro de pequenos negócios, então eu acabava fazendo todas as funções possíveis, aprendendo desde o marketing de uma campanha, fotografia, coloração e combinação de cores, desfiles, produção e bastidores, venda, atendimento ao cliente, até a entrega ao cliente. Todas essas experiências me deram bagagem para construir um negócio, além de ensinar outros designers a construírem o seu próprio negócio de casa e isso é muito valioso para mim.

FTP: Qual foi o momento decisivo que a levou a criar o Studio Mila Sanchez, e como o marketing digital foi crucial para o rápido desenvolvimento do seu negócio?

MS: Foi quando eu pedi demissão do meu único CLT, depois de ouvir da chefe que eu não era boa o suficiente para trabalhar com moda, que eu não parecia ter sido formada na USP, que eu era boa apenas fazendo tarefa de secretária e muitas outras críticas que eu sabia que não eram verdade. Até então, eu não conhecia ninguém que trabalhava como design de estampas, por isso não tinha tentado entrar na área antes. Mas quando vi que já havia perfis no Instagram de profissionais da área, mas que ainda não eram tão trabalhados com estratégias de marketing, eu vi que podia fazer isso. Então, apliquei tudo o que eu tinha de experiência, comecei a me divulgar diariamente como se fosse já meu trabalho e em menos de 1 mês já tive procura!

FTP: Durante o ano em que trabalhou em um estúdio de estamparia reconhecido em São Paulo, quais foram as principais lições aprendidas que você aplicou ao retornar ao seu próprio negócio?

MS: No ano que trabalhei nesse estúdio aqui no Bom Retiro, aprendi muito sobre negócios de estamparia na prática tanto com o meu chefe quanto com meus colegas. Entendi como funcionava a venda da estampa/arte, quais serviços eu poderia prestar dentro dessa área, vi possibilidades de ensinar muito do que eu aprendi na prática, mas não havia cursos que ensinavam e treinei muito a parte de criação, pegando agilidade para entregar estampa em demanda. Foi aí que eu percebi que o mercado de estamparia é gigantesco e tem muito cliente para vender artes, o que antes eu achava que era mentira. Já que eu não conhecia ninguém dentro desse mercado.

FTP: Como mulher empreendedora na indústria têxtil, você enfrentou desafios específicos? Se sim, como os superou?

MS: Sim, como mulher empreendedora enfrento desafios até hoje. Por ser mulher e por ter começado meu negócio com 23-24 anos, eu não era levada à sério (hoje me sinto mais escutada, mas ainda existe dificuldade). Ouvia por aí que eu não tinha bagagem para ensinar, desmereciam todo meu conhecimento e as minhas experiências.

Já ouvi de mais de uma pessoa que só sou o que sou por conta de fulano ou ciclano e sempre é algum homem que fala isso, tentando desmerecer o meu crescimento. O curioso é que até mesmo quando consegui minha vaga na USP depois de estudar por 2 anos seguidos em cursinho público, todos os dias da semana sem sair de casa nem no final de semana, cheguei a ouvir de um ex-ficante que eu só tinha conseguido minha vaga porque ele “tinha pagado” a minha vaga para alguém.

O mais triste é que sei que muitas mulheres passam por isso e tem dificuldade de superar. Para mim, sempre que escuto ou passo por alguma experiência dessas, uso-as para me impulsionar ainda mais e mostrar que sou ainda melhor.

FTP: Hoje, o Studio Mila Sanchez atende clientes de estamparia exclusiva em diversos segmentos. Pode nos dar exemplos de projetos interessantes ou desafiadores que realizou?

Sim, já produzimos estampas para marcas como a Pernambucanas, por exemplo. Mas como gosto muito de desafio, os projetos mais desafiadores para mim foram marcas iniciantes que formaram toda identidade através das nossas criações como por exemplo, a @loubackcouture que criou do zero a estampa conosco e essa estampa se tornou a imagem da marca e é usada em todas as coleções. Além disso, apesar de toda a comunicação do nosso estúdio ser voltada para o público brasileiro, esse ano foi a primeira vez que atendemos uma empresa na Barcelona e vendemos estampas em euro e eu fiquei muito feliz de ter conquistado mais uma moeda.

FTP: Além dos serviços de estamparia, você oferece cursos e mentorias. O que a motivou a incluir esse aspecto educacional no seu negócio? E como você equilibra a gestão do estúdio, o atendimento aos clientes e a oferta de cursos e mentorias?

MS: O que me motivou foi lembrar da minha trajetória no início querendo entrar na área, mas sem ter as informações necessárias para trabalhar com isso, eu sabia que não havia tanta informação de negócio para designers e era isso que eu queria fazer, formar mais empreendedoras que assim como eu sonhavam em trabalhar desenhando desde crianças.

Hoje, o estúdio é maior, o que me faz ter mais controle de todas essas tarefas. A parte de criação hoje eu demando para designers parceiros da minha equipe, que geralmente são mentoradas minhas que se destacam durante a mentoria e assim, consigo priorizar o conteúdo dos cursos e atualizações para meus alunos. Como estou em contato direto com o mercado, sempre tento criar materiais atualizados ao mercado para que eles também tenham esse contato direto com a estamparia.

FTP: Como você se mantém atualizada sobre as novas tendências e tecnologias em estamparia, e quais inovações você acredita que terão maior impacto no setor nos próximos anos?

MS: Para me manter atualizada, faço muita pesquisa de campo presencial em marcas, shoppings, etc. Sempre busco me atualizar em feiras da área e cursos de estamparia, marketing e negócios. Assim consigo compilar todas as informações e trazer um conteúdo mais detalhado, novo e atualizado para meus alunos.

Com certeza a Inteligência Artificial vai mudar muito do que temos hoje no mercado de têxtil e moda, a cada mês a IA parece que se torna ainda maior e é por isso que eu tenho aprendido, buscado e ensinado muito sobre essa tecnologia, pois sei da dificuldade que é se atualizar à uma nova tecnologia tardiamente.

FTP: Como empreendedora de sucesso, que conselho você daria para outras mulheres que desejam iniciar seus próprios negócios, especialmente em setores tradicionalmente dominados por homens?

MS: Inicialmente, confie em você e não escute o que vão falar sobre você! Foque em fazer um pouco a cada dia e é o básico bem-feito todo dia que vai dar resultado no futuro!

A nossa área precisa de novas empreendedoras talentosas e que mudem o olhar profissional do mercado para valorizar ainda mais as mulheres!

FTP: Para finalizar, quais são seus planos e aspirações para o futuro do Studio Mila Sanchez, e que mensagem você deixaria para as mulheres que estão considerando empreender na área têxtil?

MS: Meus planos com o Studio é crescer ainda mais, atingir ainda mais mulheres que querem empreender tanto com uma marca que tenha estampas quanto com designers que queiram empreender. Para mim, o meu negócio faz sentido quando eu posso fazer algo de positivo no mundo e ver outras pessoas tendo sucesso é meu principal objetivo.

Para quem está considerando empreender na área têxtil e na estamparia, saiba que existe um mar azul ainda a ser desvendado e muito mercado! Não desista, você tem muita experiência a contribuir. Cada pessoa com suas próprias experiencias podem contribuir para que nosso mercado seja mais valorizado.

Gostou? Continue acompanhando os conteúdos da FuturePrint Digital para acompanhar as outras matérias da série Mulheres Empreendedoras!