Bruno Busquet
Presidente do POPAI Brasil
Global Council Member na Shop! Association
Ceo da agência TPNQ Creative & Strategic
Mesmo quem está habituado a participar de grandes feiras e eventos se surpreende com a magnitude da EuroShop. Essa edição, que aconteceu na cidade alemã Düsseldorf, é e foi provavelmente a fonte mais rica de informação e de tendências de 2020. Nos entremeios dos seus 19 pavilhões e milhares de expositores, um termo ressoa e ganha corpo — literalmente. É o “sensorial retail”: a combinação estratégica da humanização do varejo com o que há de mais tecnológico.
Mais do que uma expressão publicitária, o conceito aparece nas sutilezas dos discursos dos participantes e na materialização de cada espaço comercial ali construído. Se nas edições anteriores os produtos eram protagonistas absolutos, agora é a experiência de compra como um todo quem dita o tom dos stands e propostas. Fato é que, em um futuro breve, não haverá loja que não seja, em si mesma, uma plataforma imersiva para os consumidores.
Esse é um grande divisor de águas para o varejo. Impulsionado pela dissolução das grandes mídias e pelo ganho de repertório dos mais diversos públicos, os pontos de contato presenciais são provocados a repensar seus papéis. O consumidor quer escolher e está a cada dia mais preparado para essa tarefa. Como deixar passar, então, a oportunidade de fisgá-lo quando já está dentro da casa da marca? Quem não souber responder a essa pergunta estará fadado ao esquecimento.
Exemplo claro disso é o espaço da Tesla aqui na Alemanha. A marca de carros elétricos nascida na Califórnia e que fica sob os comandos do CEO Elon Musk é referência em luxo, performance e tecnologia de assistência à direção. Suas vendas vão muito bem, obrigado. Porém a novidade é a apresentação disruptiva dos veículos e seus detalhes. A loja é completamente interativa e te permite ver, tocar, ouvir e sentir cada pequeno item: das opções de estofado às madeiras de acabamento, do vidro ao revestimento do teto.
E o que é isso senão a personalização levada à sua extrema potência? Digo pra vocês: é também uma estratégia extremamente inteligente para entregar o diferencial do produto e, consequentemente, do propósito da marca. Ao invés de expor uma gama infinita de veículos e confundir quem está comprando, a Tesla guia as pessoas à compra certeira através de uma jornada sensorial, premium e de alto valor.
Uma mudança como essa diminui significativamente o investimento em cada unidade de venda. Também aumenta as chances de converter quem já se predispôs a ir até a loja mas ainda não tem total certeza sobre o que quer e quando quer. Se pode existir um carro desenhado para os seus desejos, que combine suas preferências como nenhum outro e que, além disso, seja elétrico, mais sustentável e gere menos gastos: para quê investir em outra opção? Não sei vocês, mas eu quero um e quero já!
E como nem só de carros luxuosos vive o varejo no Brasil, passamos por vários stands e outros comércios nos atentando ao fator “sensorial retail”. Temos indústria alimentícia investindo em maior percepção de frescor, empresas de decoração abrindo espaço tecnológico para cocriar com o público final afim de ter um produto final personalizado, fornecedores repensando displays e muita, muita interatividade.
Viver a EuroShop 2020 é como estar com um pé já em 2030. Agora a missão é mergulhar e trazer todos esses insights e conhecimentos para a realidade brasileira. Provocar o mercado sempre em busca de experiências melhores e – é claro – maior rentabilidade.