Quando Anna Paula Paschoalino fundou a VP Máquinas, em 2012, não havia nenhum equipamento no mercado capaz de realizar a dobra específica que um grande cliente exigia. Não havia manual para mulheres na indústria de comunicação visual. E não havia espaço para dúvidas. “Meu irmão sonhou com a solução. Cortou, montou o equipamento em um dia e entregamos o pedido”, lembra. Hoje, ela é referência nacional em soluções para acrílico e termoplásticos, com uma trajetória que une técnica, inovação e liderança humanizada. 

Formada pelo Senai em Artes Gráficas, Anna Paula começou a empreender ainda adolescente, ao lado da irmã. Vendia bijuterias, pintava tampinhas de refrigerante e fabricava velas para conseguir um lanche melhor. Com criatividade e resiliência, transformou essas experiências em uma empresa sólida, que hoje fornece equipamentos, insumos e treinamentos para o setor de displays, móveis de acrílico e pontos de venda. 

A seguir, ela compartilha os desafios enfrentados, a importância da formação técnica, o impacto da inteligência artificial nos negócios e conselhos para outras mulheres que desejam empreender em setores técnicos e industriais. 

Esta entrevista foi feita para inspirar você, leitor do FuturePrint Digital, a enxergar novas possibilidades no mercado de transformação de materiais, valorizando o empreendedorismo feminino e a inovação com propósito. Boa leitura! 

Como surgiu a VP Máquinas? A VP nasceu de uma urgência. Recebemos um pedido grande de displays e não havia máquina no mercado que fizesse a dobra necessária. Meu irmão, que já vinha tentando desenvolver uma solução, sonhou com o equipamento. No dia seguinte, cortou, montou e entregamos o produto. Eu já tinha refinanciado meu carro para participar da feira FuturePrint, em 2012. Compramos um espaço de nove metros quadrados e lançamos a VP Máquinas. Vendemos 42 máquinas no primeiro ano. Desde então, só crescemos. Hoje, além dos equipamentos, oferecemos insumos e treinamentos para transformar acrílico em móveis, displays e peças personalizadas. 

Como a sua família participou da construção da empresa? Desde o início, a empresa foi uma construção coletiva. Eu e minha irmã começamos juntas, ainda na época do Senai, vendendo bijuterias para os colegas e decorando veículos com adesivos feitos à mão. Ela sempre esteve ao meu lado, compartilhando ideias, desafios e conquistas. Logo após os primeiros meses, envolvemos também nosso irmão, pai e mãe. Meu pai já tinha uma vertente empreendedora, vendia peças de automóveis, e nós começamos a fazer adesivos para decoração de veículos. 

Quando meu irmão ficou doente, há 15 anos, tive que fechar uma loja no shopping e voltar para a fábrica. Foi um momento difícil, mas a família se uniu. Meu irmão, mesmo em recuperação, desenvolveu uma máquina essencial para um grande pedido. Essa união familiar foi o alicerce para o crescimento da empresa e para o lançamento da VP Máquinas. 

Quais os principais desafios como mulher empreendedora? Como mulher, enfrentei muitas dificuldades, principalmente no mundo corporativo e industrial. Mas superei como se isso não fosse um problema. Me fiz de “besta” para pedir opinião, mas sempre com competência e argumentos. O maior desafio foi lidar com bancos, que são mais machistas que a indústria. Quando você começa a falar a língua deles e mostra que sabe o que está fazendo, as barreiras caem. Eu nunca esperei aprovação. Fiz o que precisava ser feito, com ou sem apoio. 

Como a formação técnica e os programas de capacitação influenciaram sua liderança? O Senai me deu base de chão de fábrica. Aprendi que todo empreendedor precisa entender os processos, mesmo que não esteja operando diretamente. Já o programa “10 Mil Mulheres”, da FGV com Goldman Sachs, me ensinou a transformar o dia a dia em processos delegáveis. Isso mudou minha visão de gestão. Aprendi a delegar sem “delargar”, a criar processos replicáveis e a buscar crescimento com base em ferramentas sólidas. Depois disso, fiz MBA em gestão de pessoas e comportamento humano, treinamento em coaching, psicologia positiva e inteligência emocional. Hoje, estou me formando em Inteligência Artificial pela Faculdade Exame, com mentoria da Tata Gonçalves. 

Como tem sido a transição para o uso de inteligência artificial? Está sendo maravilhosa. A IA me ajuda em processos, estoque, comercial, criação de sites, melhoria de imagens e até na transformação de fotos em vídeos. Criei uma assistente virtual de vendas que ajuda minha equipe a lidar com leads sem desgaste emocional. No começo, houve resistência. Minha gerente de vendas tinha medo de perder o emprego. Mas expliquei que a IA veio para auxiliar, não substituir. Ela não fica doente, não se distrai, não se abala com críticas. Quando o lead está pronto, a gerente assume e conclui a venda. Isso economiza tempo, energia e evita desgaste emocional. 

Que conselho você daria para outras mulheres que estão começando? Juntem-se a outras mulheres. Participem de grupos, estudem sempre, façam cursos, levem cartão de visita e falem sobre seus produtos sem vergonha. A mulher tem esse perfil colaborativo. Nós ouvimos, trocamos, crescemos juntas. Separe meia hora por dia para estudar algo novo, participe de eventos presenciais, procure o Sebrae. E nunca tenha vergonha de falar sobre seus problemas — outras mulheres podem ter a solução. 

Como você enxerga o papel da mulher na indústria hoje? A mulher tem uma liderança mais humanizada. Sabemos lidar com os “mimimis” da nova geração, temos jogo de cintura. O que precisa mudar é a nossa postura. Não importa se sou mulher ou homem, importa o que eu entrego. Quando você se posiciona com competência, os outros mudam por osmose. Não dá para mudar ninguém, só a si mesma. E isso já é suficiente para transformar o ambiente.