Ok, estamos em fevereiro, e já dá para ter uma boa noção do que aguardar de 2020. No “macro”, esperamos que a economia e a política estabilizem. No “micro” (o nosso segmento de impressão digital e sinalização), há grandes tendências que aventam boas oportunidades para aqueles que tiveram visão e iniciativa. Dá para afirmar que estamos num momento auspicioso, já sentido por muitos empresários do setor. Uma pesquisa recente da FM Future, consultoria com sede em Londres, entrevistou 129 participantes de vários locais do mundo para projetar a confiança no futuro do mercado de tecnologia inkjet. A pesquisa revelou que mais de 95% dos entrevistados estão extremamente confiantes ou muito confiantes para os próximos anos. Além disso, mais de 40% preveem um crescimento superior a 10% nos próximos 12 meses.

Outro estudo, “The Future of Printed Signage in an Electronic World to 2024”, da Smithers Pira, consultoria internacional da área de impressão, apresentou tendências para o mercado global de sinalização impressa (apenas a comunicação visual). Entre as principais informações do relatório está a avaliação de que em 2019 o mercado supracitado valia 43,30 bilhões de dólares, e a projeção é que ele cresça 0,2% ao ano.

A mesma Smithers Pira lançou recentemente outro relatório, intitulado “The Future of Functional and Industrial Printing to 2024”, que aponta que o valor atual do segmento de impressão inkjet industrial e funcional (cerâmica, decoração, eletrônica, vidro, automotivo e biomedicina) é de 97,7 bilhões de dólares, e a previsão é que ele aumente para 137 bilhões de dólares em 2024.

Quer mais dados que mostram expansão do nosso setor? A consultoria norte-americana MarketsandMarkets revelou que o mercado de grande formato global vale 8,7 bilhões de dólares e pode atingir o valor de 11,4 bilhões de dólares em 2025, crescendo a uma taxa anual de 4%. Esses dados fazem parte do relatório “Large Format Printer Market by Offering (Printers, RIP software, Services), Printing Technology (Inkjet, Laser), Ink Type (Aqueous, Solvent, UV Cured, Latex, Dye Sublimation), Print Width, Application, and Geography – Global Forecast to 2025”.

As pesquisas citadas acima mostram que você, profissional do segmento, pode ficar entusiasmado por atuar numa área em expansão e repleta de inovação, tecnologia e, mais importante, oportunidades e tendências. Aliás, muitas tendências. A seguir, destrinchamos algumas das principais delas para o ano de 2020:

Mídias e insumos sustentáveis

Quais são as mídias mais usadas em nosso mercado? Pensou em vinil e lona, não? Isso não é à toa. Esses dois substratos são amplamente disseminados pela razão de serem fáceis de achar, imprimir e instalar. Os fornecedores conseguem vendê-los por preços competitivos e os clientes ficam satisfeitos com os resultados oferecidos por essas películas de PVC. Mas… o problema é que esses materiais à base de policloreto de vinila causam impactos ambientais, por não serem biodegradáveis, nem recicláveis, além de durarem muito tempo em aterros sanitários.

Então, o que fazer? Uma das respostas é substituir as lonas por substratos têxteis. Embora incipiente no Brasil, esse é um fenômeno mundial. Na disputa entre lona e tecido, certamente esse último leva vantagem. Vejamos: o tecido é leve, sustentável, fácil de transportar e instalar, além de reproduzir imagens de alta qualidade.

Então por que ele ainda não substituiu de vez a lona? Por duas razões: a primeira é o custo um pouco mais elevado, embora a tendência é que ele fique cada vez mais barato, desde que todos passem a adotá-lo como padrão para ações de marketing e sinalização. A segunda razão é simples: a indolência de fornecedores e birôs em relação à mudança de paradigma. Embora muitos possam se ressentir com a crítica, a verdade é que há um vício em oferecer única e exclusivamente produtos de sinalização feitos com lona – e mudar isso exige investimentos e iniciativa. É sair da zona de conforto. A questão é que a adoção do tecido é inevitável. Por mais que se resista a ele, esse é um fenômeno puxado por grandes marcas, empresas multinacionais e clientes influentes que têm adotado políticas de eliminação progressiva do PVC em suas ações de propaganda. Portanto, estamos num ponto de inflexão: ou você surfa essa onda ou deixa ela te arrastar.

Quando falamos de vinil adesivo, a questão é um pouco mais complexa. Ele é um substrato muito versátil que adere a todo tipo de superfície, e até o momento nenhum outro material sustentável conseguiu igualar o desempenho dele. Então, o vinil estará sempre aí, causando impactos ambientais? Embora isso ainda ocorra nos próximos anos, há algumas iniciativas tímidas: fabricantes de ponta estão desenvolvendo películas adesivas com qualidades similares às de PVC, porém sem o PVC. E apesar de a ideia “não ter pegado”, ela é uma amostra da preocupação do mercado em oferecer materiais livres de policloreto de vinila.

Falamos de mídias, mas não podemos esquecer das tintas inkjet usadas para imprimi-las. O insumo usado para estampar vinis e lonas é a solvente, por ser composto por materiais compatíveis com o PVC. Porém, a tendência é que ele seja substituído por tintas sublimáticas, látex e UVs – três soluções muito mais sustentáveis.

A sublimação é largamente usada para a impressão de tecidos. A látex tem o poder de aderir em muitos tipos de substratos flexíveis e rígidos (para tanto, novos equipamentos planos foram recém-lançados). E as UVs? Essas também têm um potencial enorme, não só de estampar inúmeros materiais, mas também de prover uma solução segura para usuários (operadores de impressoras), meio ambiente (não emitem VOSc) e clientes finais: podem, inclusive, fazer parte de ambientes muito sensíveis como escolas e hospitais. Por essas características, alguns fabricantes vendem suas tintas com selos de certificações como a GreenGuard, que garantem as qualidades sustentáveis e de segurança dos produtos.

A tendência aqui é clara: substituir insumos e mídias que causam impacto ambiental por materiais sustentáveis, para produzir peças de comunicação e publicidade mais “limpas”. Essa demanda é puxada por marcas e empresas poderosas e grande influência global.

Decoração personalizada

Você tem ideia do quanto crescerá o mercado global de papéis de parede estampados digitalmente? Nada menos do que 23,6% ao ano, entre 2020 e 2025, quando o valor total desse mercado supracitado chegará a 10,4 bilhões de dólares. É o que aponta uma pesquisa recém-publicada pela empresa indiana de inteligência Energias Market Research.

Os revestimentos de parede personalizados estão cada vez mais presentes em escritórios, com a finalidade de criar ambientes estimulantes e peculiares. Essas mídias também têm sido adotadas por hospitais, para transformar salas e recintos indiferentes e frios em áreas de conforto e relaxamento, sobretudo em especialidades como a pediátrica. Escolas e faculdades estão se valendo dos revestimentos especiais para criar locais inspiradores e desafiadores para seus alunos. Cafés e restaurantes têm instalado essas mídias para ampliar a experiência de seu público.

No entanto, o grande segmento ainda inexplorado é o de decoração de casas e apartamentos (lares). Eis aí uma grande oportunidade (e tendência) para birôs e gráficas digitais. No entanto, para aproveitá-la, é preciso tomar um cuidado especial. O público consumidor de revestimentos para ambiente doméstico é o consumidor final. Ou seja, qualquer um pode se interessar por esse serviço (venda B2C). Então, lida-se basicamente com leigos; pessoas que não fazem a menor ideia do que seja tinta solvente, cabeça de impressão e resolução de imagem. Portanto, a linguagem para tratar com esse pessoal é diferente. Ela tem que ter mais emocional e amigável e mostrar a conveniência e os benefícios que a impressão digital pode oferecer.

Embora tenhamos citado apenas o exemplo dos papéis de parede, a decoração ambiental interna não se limita a ela. Muitas outras possibilidades são oferecidas pela tecnologia de impressão digital. Vejamos no tópico a seguir.

Personalização

A personalização transforma um objeto comum em algo que possui significado muito maior. O item deixa de ser trivial e sem graça e ganha o status de algo único e exclusivo. E as tecnologias digitais para personalização estão cada vez mais viáveis, sofisticadas e difundidas – tendência que vai continuar pelos próximos anos. Equipamentos inkjet UV, sublimáticos e de impressão direta podem transformar simples objetos em itens com altíssimo valor agregado.

Pense também nas inúmeras possibilidades de personalização na decoração. Por exemplo: o consumidor pode ter um sofá diferente de qualquer outro. Basta imprimir com estampas exclusivas o tecido que vai compor o estofado. Sim, isso é possível. E não só: a estampa do móvel pode combinar com outros objetos e com o próprio ambiente decorado por papéis de parede (ver tópico anterior).

E é fato que as gráficas digitais mal arranharam o potencial de vendas de personalização para o consumidor final (B2C). E talvez esse fenômeno transforme o birô em um negócio de prestação de serviço local. Isto é, ele atenderá os consumidores de seu bairro, região ou cidade (sobretudo as menores). Entenda: essa personalização da qual tratamos não se limita a “personalizar imagens”, mas sim prover todo um serviço pessoal e exclusivo. E para isso, é importante estar o mais próximo possível do cliente. É preciso de estar onde ele está.

Explosão da estamparia têxtil digital

Já falamos do tecido como tendência para substituir lonas e como item fundamental para composições personalizadas em decoração. No entanto, suas aplicações vão além da sinalização e da própria decoração. Estamos falando de um material que é matéria-prima de grandes atividades industriais, como moda e vestuário. Para se ter uma ideia, segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), o Brasil tem a maior cadeia têxtil do Ocidente. Além disso, o setor é um dos que mais admite profissionais: são 1,5 milhão de empregados diretos e quase 8 milhões de indiretos. Isso dá uma noção da pujança do segmento. “O Brasil é um dos principais atores da indústria têxtil mundial. Produzimos desde a fibra até o produto final manufaturado. E foi com base neste mercado que a Epson desenvolveu as suas tecnologias de sublimação”, explica Fábio Neves, presidente da Epson do Brasil, que inaugurou em fevereiro de 2020, em Barueri (SP), um showroom totalmente dedicado a impressão digital em tecidos.

O principal objetivo do centro recém-criado pela Epson é mostrar todo o potencial da tecnologia digital, sobretudo como ferramenta para substituir processos industriais antigos e defasados que gastam e poluem mais. Por exemplo: o showroom é abastecido com equipamentos que provam que, num local com apenas 200 m², é possível estampar 20 mil camisetas e 200 mil m² de tecido por mês. Uma estamparia analógica precisaria de um espaço dez vezes maior para produzir as mesmas quantidades.

A digital economiza não só espaço, mas também recursos naturais. Ainda de acordo com a Epson, em 2018, a impressão digital em tecidos poupou mais de 40 bilhões de litros de água em todo o mundo. Ela também utiliza menos tinta e reduz drasticamente os volumes de resíduos poluentes em comparação aos processos tradicionais. Isso porque a digital dispensa muitas etapas de produção. Ou seja, como toda tecnologia mais avançada, ela faz mais com menos.

E detalhe: até o momento, a digital é responsável por colorir apenas 5% do volume de materiais têxteis fabricados no mundo. No caso do Brasil, a tecnologia estampa apenas 8% dos tecidos produzidos na indústria de vestuário, de acordo com uma pesquisa realizada em março de 2019 pelo IEMI (Inteligência de Mercado), empresa brasileira provedora de conhecimento, especializada nos mercados têxtil, calçadista e moveleiro. São números tímidos. Mas isso vai mudar. A Smithers Pira, empresa norte-americana de informação e consultoria, sugere que o mercado global de estamparia digital aumentará para 4,9 bilhões de euros (4,22 bilhões de libras) até 2023, num crescimento de 11,6% ao ano. E há fabricantes e indústrias que acham que esse número é bem conversador.

Essa explosão digital é lógica e racional. Trata-se de uma tecnologia capaz de imprimir com alta qualidade em praticamente qualquer tipo de tecido, usando menos espaço e menos recursos. Portanto, é mais econômica e sustentável que as tecnologias analógicas atuais. E de quebra ela possibilita personalizações (ver tópico anterior) e tiragens que vão de uma única peça customizada a milhões de metros quadrados.

E quando nos referimos a tecnologia de impressão digital para tecidos, não falamos apenas da sublimação (de pequeno ou grande formato), mas também de máquinas DTG (direct to garment), que estampam diretamente em peças de vestuário, e equipamentos de porte industrial que empregam tintas pigmentadas, reativas, ácidas e dispersas, para estampar todo tipo de material têxtil.

Sim, em 2020 vamos assistir à rápida ascensão dessas tecnologias no mercado têxtil. É uma tendência inexorável e que traz muitas oportunidades. A única dúvida é o quanto ela vai crescer, porque sua expansão é inevitável e indiscutível.

Momento de investir em softwares

Já não é mais tendência. Aliás, virou clichê falar que as tecnologias analógicas serão substituídas pelas digitais. Tratado há décadas, o assunto já era tema de entrevistas e palestras desde o começo dos anos 1990, época em que o fundador da HP Indigo, Benny Landa, foi taxativo ao dizer que “tudo o que pode se tornar digital se tornará digital. A impressão não é exceção”.

Em 2020 (e nos anos a seguir), a digitalização só tende a se aprofundar. Não é modismo ou discurso de fabricantes enviesados. É simplesmente porque a digital realmente oferece mais vantagens: ela produz mais em menos tempo (sobretudo tiragens menores), diminui gastos de produção, oferece recursos únicos de personalização, além de ser extremamente versátil (em teoria a tecnologia inkjet, por exemplo, estampa qualquer mídia flexível ou rígida).

E a evolução das soluções digitais não vai estacionar tão cedo. Ainda veremos muitas novas ferramentas que produzirão mais e gastarão menos, e tomarão definitivamente o lugar das analógicas. E embora essas soluções sejam um conjunto de hardwares e softwares, pouca atenção ainda é dada e esses últimos. Pergunte-se: qual a porcentagem de investimento que sua empresa faz em equipamentos? E qual a porcentagem destinada aos aplicativos? Veja o tamanho da disparidade.

Embora os aplicativos de pré-impressão (design e RIP) estejam em patamares avançados de tecnologia e difusão, outros tipos de programas, infelizmente, têm sido relegados a segundo plano. Para muitos empresários do setor, a visão corrente é que softwares são gastos supérfluos. No entanto, existe um enorme potencial lucrativo nos aplicativos sendo aproveitado por birôs de ponta. Eduardo Sousa, gerente de marketing da Agfa, fabricante de equipamentos e softwares de impressão digital, acompanha de perto essa tendência: “Os birôs e gráficas digitais trabalham com diferentes marcas e tecnologias e também precisam ser mais produtivos. Para isso, é importante ter o controle total dos processos e gastos, para poder ter uma ideia exata dos custos envolvidos e trabalhar o retorno do investimento, além de estipular as margens de lucro e os preços a serem cobrados para cada serviço. Atualmente, os softwares estão tão inteligentes, que fornecem as informações corretas de gastos e orçamentos. Certamente, o software vai ser cada vez mais o coração da produção, e vai ser decisivo para a integração, gestão e fidelização com o cliente”, comenta o executivo.

É preciso, então, ir além do RIP e adotar softwares que podem diminuir custos e retrabalhos, aumentar a produtividade, expandir negócios, melhorar os processos produtivos, fidelizar clientes, entre tantas outras vantagens. Portanto, o ano de 2020 é o momento de dar maior atenção aos aplicativo de:

– fluxo de trabalho: harmoniza e integra as diversas soluções e dispositivos, além de gerenciar todas as etapas da cadeia produtiva;

– gerenciamento de cores: contribuiu para a padronização e repetibilidade da reprodução de cores e imagens, algo fundamental para evitar retrabalhos e atrasos na entrega dos trabalhos. Também é essencial para empresas que precisam imprimir cores especiais e padrões como “o vermelho Coca-cola”;

– gerenciamento de custos e orçamentos: ajudam a conhecer com precisão todos os recursos gastos de cada trabalho, o que é fundamental na criação de orçamentos e controles administrativos;

– automação: com a mão de obra especializada cada vez mais escassa e cara, muitas empresas estão optando por automatizar ainda mais as suas produções. E os softwares dedicados fazem a integração e os controles dos dispositivos e soluções;

– web to print: vender por meio da Intenet é uma nova oportunidade para birôs que querem oferecer serviços para o consumidor final (B2C). Para tanto, é necessário contar com uma loja virtual e um aplicativo web to print que deem conta dessa nova demanda. Trata-se de uma tendência clara entre gráficas digitais que trabalham sobretudo com decoração interna, personalização de vestuário e até com envelopamento automotivo;

– nuvem (cloud): para envio, compartilhamento e aprovação de arquivos digitais e trabalhos entre clientes e birôs, o que torna a comunicação mais dinâmica e rápida, e ajuda a fidelizar clientes.