A aplicação da Inteligência Artificial na moda pode parecer uma realidade muito distante. No entanto, já é possível contar com a ajuda desse tipo de tecnologia para promover uma série de benefícios para designers de moda e indústrias têxteis.
Há a possibilidade de utilizar softwares que automatizam a confecção de peças e gerenciamento de coleções e a distribuição dos produtos conforme a demanda do consumidor. Há também programas que auxiliam os consumidores em suas decisões e muito mais.
Essa é a prova que o uso da inteligência artificial na moda abre um leque de novas oportunidades ao segmento. Para conhecê-las, conversamos com a Dra. Maria Antônia Romão da Silva, Designer de Moda e Docente no Departamento de Design nos cursos de Design de Moda e Design Gráfico da Universidade Estadual de Londrina – UEL.
Inteligência Artificial: o que é?
Com aplicação relativamente recente, o conceito de Inteligência Artificial vem da capacidade humana de estabelecer relações entre informações e conectá-las em diferentes contextos e situações.
Ou seja, a Inteligência Artificial (IA) é uma disciplina da ciência da computação dedicada ao desenvolvimento de tecnologias capazes de realizar atividades que exigem algum grau de inteligência, semelhante à humana.
Para isso, há sistemas de IA que utilizam algoritmos e modelos estatísticos para analisar dados, aprender com eles e fazer previsões ou decisões com base nesse aprendizado.
No Brasil, essa tecnologia está em franca ascensão. Conforme um estudo do SAS de 2022, feito pelo IDC, o país lidera o uso de inteligência artificial na América Latina. Cerca de 63% das organizações (de diferentes setores) utilizam aplicações baseadas nesta tecnologia em seus processos.
Um destes setores é certamente a indústria têxtil e todos os processos a ela relacionados, desde o desenvolvimento de novas peças até a logística de transporte.
Inteligência artificial na moda: impactos em todos os setores
Para a Dra Maria Antônia Romão da Silva, a moda é um setor que reflete a sociedade e a época à qual pertence. “A mudança é o princípio operacional da moda, com inovações disruptivas marcando a história da indumentária e da moda”.
Diante disso, a automação observada até o atual momento atinge predominantemente a classe de trabalhadores da linha de produção, não tendo ação direta sobre o consumidor. Ao contrário, a Inteligência Artificial alcança um processo até então intocado pela indústria da moda: a criação.
Assim, dentro do mercado têxtil de moda, a aplicação da IA visa, segundo a docente da UEL, maior eficiência e precisão. “Alguns exemplos incluem sua presença em sistemas de previsão de demanda, influenciando o ajuste da produção de acordo com as necessidades. Processos já automatizados, como modelagem por sistema CAD e corte, estão sendo alimentados por IA”.
A docente cita ainda um estudo publicado em 2023 na SN Applied Sciences. Nele, os autores destacaram que a IA, ao otimizar a cadeia de abastecimento, ajuda a reduzir o desperdício e aprimorar a eficiência. “Ou seja, a IA está sendo usada para tornar a indústria da moda mais sustentável”, complementa.
Outra possibilidade do uso da inteligência artificial na moda citada por Maria Romão é a experiência de compra. “Tecnologias de IA, como assistentes de compras virtuais e chatbots, estão sendo empregadas para auxiliar os clientes a encontrarem produtos, melhorando assim a experiência de compra e a personalização do vestuário”.
Ao analisar dados do consumidor, ferramentas de marketing baseadas em IA podem também determinar as melhores estratégias de marketing, alcançar os clientes certos e maximizar o impacto da publicidade.
“Por meio da IA, as empresas do ramo da moda podem se destacar na concorrência ao melhorar a experiência e atrair novos clientes”, destaca a docente.
Alguns desafios ainda precisam ser superados
Mesmo com as muitas possibilidades da aplicação da inteligência artificial na moda, há ainda alguns desafios que precisam de maior atenção.
Inicialmente, um desafio que precisa ser melhor entendido é o risco de perda de empregos na indústria, à medida que a automação poderia reduzir a demanda por designers e outros profissionais.
Existe também a ameaça de a moda se tornar menos individual e criativa à medida que os algoritmos de IA influenciam as decisões de design e marketing.
Para superar esses desafios, Maria Romão destaca que é essencial “garantir que a IA seja usada de maneira a promover a criatividade e a individualidade”. Além disso, as empresas podem focar na utilização da IA para agilizar operações, otimizar cadeias de abastecimento e melhorar estratégias de marketing, resultando em economias de custos, maior eficiência e eficácia.
Por fim, é importante salientar que assim como em qualquer avanço tecnológico, há desafios a serem superados, mas o potencial para maior eficiência e novas oportunidades é significativo.
“O impacto da IA na moda e no mercado têxtil pode ser visto como uma continuação das mudanças transformadoras trazidas por revoluções disruptivas que acompanham o setor, apresentando avanços positivos e desafios a enfrentar”, finaliza.