Quando se começa a estruturar um controle de estoque mais estratégico, diversas dúvidas tornam-se comuns. Especialmente quando cruzamos essas decisões com outras áreas do negócio. Sob o olhar do financeiro, por exemplo, estoque parado é dinheiro parado. Mas, sob o prisma das vendas, não ter matéria-prima disponível ou produto acabado à pronta-entrega pode representar perda de clientes.

E isso também leva o empreendedor ao questionamento: será que é uma boa ideia realmente manter em estoque produto acabado? Ou é melhor apenas manter níveis de estoque de matérias-primas de alto giro?

Para o professor do curso de Logística da Universidade Metodista de São Paulo, Ari Ricardo de Almeida, “a pergunta não é ter estoque de matéria-prima ou produto acabado, mas sim: estamos comprando a matéria-prima para fabricar o produto que atende a demanda do mercado? Antes de pensar em ter estoque, é preciso pensar em comprar o estoque que atende a demanda do consumidor. A empresa conhece de fato a demanda e o perfil do produto? A demanda atual justifica manter o produto no estoque? É melhor produzir apenas sob encomenda determinados produtos? Esse planejamento de demanda é que precisa ser avaliado. Se a organização sabe o que vai vender no seu horizonte de planejamento pode planejar a compra da matéria-prima”.

Desse modo, como indica o professor, é preciso deixar de lado o feeling ou “achismo” para esse tipo de decisão. Ela precisa ser baseada em dados confiáveis. Tecnologias de gestão de estoque e de negócios podem ajudar bastante no dimensionamento da previsão de demanda.

Estoque de matéria-prima

Para empresas de serigrafia, sublimação, comunicação visual, impressões digital e têxtil, algum nível de estoque de matéria-prima sempre deverá ser mantido. Isso inclui tintas, tecidos, papéis e outros insumos essenciais para a atividade-fim do negócio.

No entanto, é preciso conhecer fatores como giro de cada item, sazonalidades, vida útil e outros, alinhando-os com históricos e projeções de vendas para conseguir definir quais matérias-primas e em que quantidade manter em seu estoque, de modo a evitar compras excessivas ou que falte algo central para a sua produção.

Estoque de produto acabado

Algumas empresas trabalham também com o modelo de pronta-entrega de produto. Isso pode dar agilidade para as vendas, especialmente as de última hora – o que pode possibilitar um valor de mercado mais elevado levando-se em conta o fator disponibilidade imediata.

Entretanto, é preciso considerar alguns riscos associados a esse modelo. Para empresas de brindes e materiais promocionais, a não ser que se tenha identificado uma tendência ou previsão muito confiável, manter produto acabado em estoque pode significar itens “encalhados” e prejuízos.

Também é importante considerar que manter mais esse tipo de item no estoque irá requerer o uso de mais espaço de armazenamento, movimentações extras e mais tarefas de controle de estoque.

Ainda, alguns materiais podem se tornar obsoletos. Pense, por exemplo, que você fez a sublimação de canecas e camisetas com tema de um evento esportivo sazonal ou um meme da internet em alta no momento. Se não conseguir vender rapidamente esse produto acabado, ele poderá perder a relevância e o interesse do público, o que representa prejuízos para a sua empresa.

Matéria-prima ou produto acabado: como definir o que manter em estoque

Lembre-se de que itens parados em estoque – sejam matérias-primas ou produtos acabados – poderão enfrentar a depreciação, ocuparão espaço e tempo de sua equipe para gerenciá-los. Portanto, é fundamental um planejamento assertivo para evitar esses e outros problemas, como retoma o professor da Universidade Metodista de São Paulo.

“O que muitas empresas acabam errando é em não pensar no perfil da demanda do produto e como isso afeta o planejamento de compras e produção. Devemos lembrar sempre que a manutenção de estoque impacta o capital de giro da empresa e erros de planejamento de demanda serão percebidos apenas quando a empresa tem alto volume de estoque e alterações e flutuações na demanda impactam no fluxo de saída do estoque. Acredito que estamos vivendo um momento que exige cautela. Um bom planejamento de demanda exige um trabalho constante de diversas áreas da empresa”, explica o especialista.

Assim, é preciso, a partir de uma gestão inteligente e estratégica de seu estoque, encontrar um equilíbrio para que sua empresa mitigue gargalos e riscos e aproveite oportunidades tendo velocidade de resposta à demanda do cliente. Naturalmente, esse é um processo que envolve as diferentes áreas de negócio e que demanda integração e melhoria contínua.

“Melhoria instantânea não existe, a dinâmica organizacional funciona em um processo de melhoria contínua. Nenhuma empresa sai ‘de zero a cem’ em três segundos. Mudanças diárias levarão a grandes mudanças de comportamento e gestão. Antes de investir em estoque, primeiro verifique seus desperdícios. Parcele sua programação de compras e negocie com seus fornecedores. Questione sempre por que determinado investimento está sendo realizado. Estoque é capital de giro que precisa trazer retorno”, afirma o professor.