A COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) chega ao Brasil em breve. O encontro acontece entre os dias 10 e 21 de novembro deste ano, na cidade de Belém, no Pará. Pela primeira vez, o evento ocorre na Amazônia, dando uma dimensão simbólica e estratégica ao debate climático global, especialmente sobre a importância de preservar a floresta e os recursos naturais.

Para a indústria de impressão, os desdobramentos da COP 30 são, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade: novas regras, pressão por menor impacto ambiental e a urgência de inovar em práticas sustentáveis e comunicação visual eco‑friendly. Como essas transformações devem levar a um setor mais sustentável? Confira a seguir um pouco mais sobre os impactos esperados e entenda seu papel nessas mudanças.

COP 30 e os impactos na indústria de impressão

A COP 30 deve reforçar metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), financiamento climático e preservação de biomas críticos como a Amazônia.  No encontro, os países precisarão apresentar NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) mais rígidas e implementar novos compromissos até 2030.

Caso surjam regulamentações ambientais específicas para impressão, embalagens, têxtil e comunicação visual, será natural que elas envolvam requisitos como:

  • uso de tintas com menor carga de compostos orgânicos voláteis (COVs);
  • batas de água e vegetais;
  • percentuais mínimos de reciclabilidade ou renovabilidade dos substratos;
  • eficiência energética e descarte responsável.

Essas são demandas com potencial de afetar diretamente o segmento de impressão e comunicação visual, já que mesmo as pequenas gráficas vão precisar acompanhar esse movimento. Além disso, é possível que grandes marcas comecem a exigir certificações ambientais e relatórios de pegada de carbono de seus fornecedores, o que deve também levar a transformações em toda a cadeia produtiva. 

Embalagens sustentáveis: transformação e case brasileiro

Mesmo sem exigências legais, a sustentabilidade já se apresenta como uma tendência que transforma o consumo e, consequentemente, os produtos. Por isso, já é possível identificar ações e marcas que já se antecipam nesse movimento. Em 2025, por exemplo, a Natura (em parceria com a empresa Box Print) inaugurou no Pará a unidade chamada Ecoprint, dentro do seu Ecoparque em Benevides, com produção estimada entre 5 e 7 milhões de cartuchos de sabonete por mês.

A fábrica funciona sob o conceito de simbiose industrial, em que resíduos e insumos de uma unidade são reaproveitados pela outra, fechando ciclos produtivos e reduzindo o desperdício. Além disso, 94% da demanda de sabonetes da Natura e Avon são atendidos ali, com mais de 3,2 bilhões de unidades produzidas na última década. A operação também contrata 100% de mão de obra local, valorizando a economia regional e atingindo pontos sociais que conversam diretamente com as demandas ESG. 

Para o setor, esse é um excelente exemplo de como unir embalagem sustentável, economia circular e responsabilidade social – alinhado diretamente à COP 30 e ao legado da região Amazônica.

Impressão com menor impacto ambiental: por onde começar?

Algumas soluções já utilizadas ou em adoção crescente no setor gráfico podem ajudar a reduzir o impacto ambiental da indústria de impressão e de comunicação visual, que carrega alguns dos números e dados mais críticos do segmento industrial. Nesse cenário dinâmico, algumas tecnologias e acreditações tornam-se diferenciais importantes à medida que clientes exigem transparência e responsabilidade. 

Alguns exemplos de soluções em crescimento no setor são:

  • Tintas à base de água ou vegetais, em substituição às solventes ou UV tradicionais, minimizam emissões e tornam a reciclagem mais fácil. “Tintas à base d’água são livres de alguns componentes que podem agredir o meio ambiente ou a saúde de alguma forma como o tack, o formaldeído, nonylphenol ethoxylate e solventes aromáticos”, afirma Rodrigo Pereira, diretor executivo e instrutor de serigrafia da Silk Screen Cursos e Oficinas;
  • Processos com menor consumo de energia e água, como impressão digital direta (com menor resíduo), secagem eficiente ou uso de energia renovável nas plantas;
  • Certificações como FSC (uso responsável de papel), ISO 14001 (gestão ambiental) ou selos como Empresa Carbono Positivo ajudam a comprovar o compromisso ambiental

Economia circular na indústria gráfica

A economia circular está no centro da sustentabilidade: não basta reduzir impacto, é preciso fechar o ciclo da produção. Indústrias de todos os segmentos já demonstram isso: segundo o IBGE, 89% das indústrias médias ou grandes adotam práticas de proteção ambiental, sendo que as ações de reciclagem e reuso foram registradas em 93% dos casos. 

Gráficas que adotam essa lógica diminuem custos, compliance e ganham credibilidade para atuar com clientes conscientes. Algumas estratégias de economia circular incluem:

  • Reaproveitamento de resíduos, quando papéis usados, substratos descartados e refugo de tinta podem virar insumos para outras aplicações ou novos produtos.
  • Gestão integrada de resíduos, com logística reversa e parcerias com recicladores ou cooperativas.
  • Simbiose industrial, como no Ecoparque da Natura, onde resíduos de uma cadeia alimentam outra, reduzindo descarte e aumentando eficiência.
  • Parcerias estratégicas com fornecedores, clientes e até concorrentes para criar cadeias mais fechadas e ambientalmente responsáveis.

Prepare-se para um futuro de baixo carbono

A redução da pegada de carbono é um dos focos da COP30 e deve afetar todos os setores da cadeia produtiva. Como se adaptar? Algumas estratégias concretas para a indústria de impressão são:

  • Mapear a pegada de carbono: auditando energia usada, resíduos, transporte e insumos. A partir disso, definir metas de redução.
  • Investir em infraestrutura verde: sistemas eficientes de secagem, painéis solares, reuso de água, gestão de resíduos.
  • Capacitar equipe e fornecedores, construindo uma cultura interna sustentável.
  • Comunicar iniciativas com clareza para clientes: usando termos simples, dados objetivos e benefícios tangíveis (ex: “impressão com tintas vegetais reduz as emissões em x %”).
  • Buscar certificações reconhecidas: como FSC, B Corp (a Box Print é certificada), ISO 14001 ou selo Carbon Free.

Esses investimentos trazem retorno via redução de custo operacional, atração de clientes conscientes e melhor posicionamento frente a regulações que podem surgir após a COP 30.

Conexões com outros setores: comunicação visual e impressão têxtil

Embora o foco seja embalagens, muitas das práticas se aplicam à comunicação visual e à impressão têxtil, setores que também enfrentam pressão por menor impacto. Além do uso de substratos recicláveis ou certificados e tintas eco‑friendly, a indústria têxtil e de impressão também enfrentam a necessidade de estabelecer processos digitais que reduzem resíduos, logística reversa em painéis publicitários e banners e economia circular em tecido. 

Reguladores e grandes compradores tendem a exigir ambientes corporativos e publicitários mais verdes, e isso reflete em demanda por fornecedores alinhados com os princípios da COP 30.

Cases como o da Benetex, apresentado na FuturePrint 2025, são exemplos de ações já em andamento que podem ser mencionadas. A empresa é referência em reciclagem têxtil e produz, a partir de tecido reciclado, 1.500.000 toneladas de desfibrados por ano, para alimentar a indústria de esfregões e escovas.

Sustentabilidade: do compromisso à ação

A COP 30 em Belém pode representar um ponto de virada para o setor de impressão no Brasil. Com as esperadas novas metas de descarbonização e maior visibilidade global, o setor é chamado a virar protagonista de sua própria evolução sustentável.

Conhecer e monitorar as metas globais e nacionais definidas pela COP 30, adotar embalagens sustentáveis e eco‑friendly e investir em tintas verdes, eficiência, certificações e economia circular são bons pontos de partida para sair do compromisso para a ação.

Para o setor, o momento é de aprendizado e adaptação. A COP 30 oferece não apenas pressão ambiental, mas sobretudo oportunidades de inovação, parcerias e diferenciação. Uma indústria gráfica verde é, hoje, sinônimo de futuro sustentável. Não fique para trás!

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