“Márcio, o meu Gelatina não fica igual ao seu…”

Essa frase já virou um clássico nas aulas práticas do meu treinamento presencial. Ela sempre vem
acompanhada de uma expressão de frustração e um pouco de incredulidade. Afinal, o aluno
seguiu o processo: usou a mesma tinta, o mesmo rodo, a mesma fonte de calor… mas o resultado
não causou o mesmo impacto.

Foi assim em uma aula recente. Um aluno me trouxe uma peça com brilho, mas sem volume.
Faltava aquele Efeito UAU que todo mundo busca. Peguei a estampa nas mãos, olhei com calma
e perguntei:

“Me conta… como foram as suas três primeiras demãos?”

Ele parou, pensou… e então entendeu que estava tentando encantar com o topo, sem preparar o
alicerce.

Onde nasce o Efeito UAU

A estampa conhecida como Gelatina com Plastisol Stamp Soft Puff chama a atenção pelo acabamento translúcido e brilhante, quase como uma escultura em tecido. Mas o que sustenta esse efeito em volume não é o gel. Embora o gel seja crucial para o acabamento, a verdadeira sustentação é a base invisível que vem antes dele. A maioria das pessoas só vê a última camada. Mas quem trabalha com serigrafia profissional sabe: a arte, a matriz e as primeiras demãos são responsáveis por mais de 80% do resultado final.

1. Tudo começa na arte (e na fonte)
Não existe técnica que salve uma arte mal pensada. O design precisa ser construído para o volume, e isso começa com a escolha da fonte. Fontes muito finas, traços negativos e áreas abertas demais não sustentam o relevo e comprometem o impacto.

As melhores escolhas são: Fontes arredondadas

Essa é uma das primeiras correções que faço em mentorias para marcas: ajustar o design ao
comportamento da tinta. Porque sem isso, o resultado será sempre medíocre, mesmo com ótimos
materiais.

2. A matriz também tem voz
A tela é mais do que suporte. Ela é protagonista.

A revelação deve ser feita com emulsão específica para relevo, em poliéster 44 fios, usando fora
de contato bem ajustado. O objetivo aqui é garantir uma base com volume e nitidez, que permita
ao puff expandir uniformemente sem escapar pelas bordas.

Como eu sempre digo: “O que você revela mal, nada conserta.”

3. As três demãos que sustentam tudo
Esse é o verdadeiro coração do processo:

  • Primeira demão: Plastisol Stamp Soft Puff aplicado com pressão firme, usando rodo acima
    de 70 Shore. Camada precisa e limpa.
  • Segunda demão: Aplicação mais suave, com atenção para não exagerar. Pré-cura leve.
  • Terceira demão: Reforço da estrutura com leveza e controle. Outra pré-cura leve.

⚠️ Importante: Nunca deixe o relevo expandir nas primeiras demãos. Isso desestabiliza o
volume e prejudica a aplicação do gel.

Somente após essa fundação é que entra o gel na cor desejada, aplicado com leveza, que seca
com aquele brilho que virou marca registrada das minhas coleções.

As quantidades de demãos são importantes para o brilho gelatina.

4. O acabamento é só a ponta do iceberg
Quando alguém diz “Uau, que estampa!”, o que essa pessoa está vendo é apenas a superfície.

O brilho intenso e o impacto visual são consequências de uma construção técnica cuidadosa, que
começa muito antes do gel.

O acabamento é crucial, mas precisa de controle. É necessário dominar o tempo de cura, a
temperatura ideal e o comportamento do gel na aplicação para não queimar a camada final nem
comprometer o brilho.

Sem esse controle, o efeito desejado derrete, literalmente. Mas quem vive da serigrafia não pode
depender da sorte. Precisa dominar o processo.

É por isso que ensino cada etapa em detalhe: Nas minhas mentorias para fábricas e marcas
autorais, nos treinamentos presenciais do Expert Doutor Estampa, nas coleções onde atuo como
curador técnico.

Porque o cliente final pode até não saber o que são “três demãos”, emulsão, fora de contato ou
pressão do rodo nas aplicações do gel… Mas ele sente quando há algo especial ali.