Embora não seja possível afirmar com precisão quando as primeiras fibras têxteis passaram a receber o tingimento natural, achados arqueológicos indicam que esse procedimento tem sido aplicado há pelo menos 6.000 anos.
Entre 4.000 e 3.000 A.C., o tingimento natural já estava estabelecido na China, Índia e América do Sul. Um achado arqueológico do Egito Antigo revelou material tingido de índigo datado de 2.500 anos A.C., além de um cinto tingido com raízes da espécie vegetal Rubia tinctorum, encontrado em Tebas na tumba de Tutancâmon, que morreu em 1.352 A.C.
Resumindo, corantes naturais não são uma novidade. São substâncias extraídas por dissolução em água, em solução água/álcool, em solução amoniacal ou através de fermentação de uma matéria-prima animal ou vegetal. Talvez um dos corantes naturais mais conhecidos seja o Índigo, obtido por fermentação de folhas da espécie vegetal Indigofera tinctoria.
Na extração tradicional do índigo, obtém-se a forma mais estável do corante através da putrefação da matéria vegetal, insolúvel em água e de coloração azul. Para a aplicação do corante são adicionados um composto alcalino (soda cáustica ou Cal) e um redutor natural (açúcar) ou sintético (hidrossulfito de sódio), tornando o corante em sua forma solúvel em meio aquoso (coloração esverdeada) necessário para a penetração no material a ser tingido. A oxidação com o oxigênio do ar gera a forma original, azul e insolúvel, que fica depositada no substrato a ser tingido.
Alguns dos principais corantes naturais
Muitos têm sido os corantes naturais utilizados para tingir tecidos. No entanto, embora o mundo das plantas esteja cheio de cor, poucas substâncias coradas possuem as características de estabilidade à luz e à lavagem adequadas à sua aplicação aos têxteis. Do ponto de vista químico não existe uniformidade nos corantes de origem natural, por conta de vários fatores como solo de plantio e clima, dentre outros.
Garança
O corante vegetal vermelho mais importante foi sem dúvida a garança, ou ruiva, extraída da espécie vegetal Rubia tinctorum, planta conhecida pelos nomes de garança ou, ainda, granza.
A arte de tingir com a garança parece ter tido origem no Oriente e, através dos impérios egípcio e persa, ter atingido a civilização greco-romana.
Várias espécies podem ser utilizadas em tinturaria, mas a mais popular é a Rubia tinctorum, que se encontra no estado selvagem na Palestina, no Egito, na Ásia e na Europa. O corante está concentrado nas raízes da planta, principalmente nas raízes mais antigas.
As raízes eram arrancadas, em seguida lavadas para se retirar a terra que viesse agarrada, secas e cortadas em pequenos pedaços. O corante era extraído com água e separado da solução através de secagem.
Urucum, achiote ou anato
Esses são três dos vários nomes pelos quais é conhecido um arbusto que pode atingir o porte de uma pequena árvore, cerca de 10 m, e cujo nome científico é Bixa orellana L.
O urucum é o fruto do urucuzeiro, arvoreta da família das bixáceas (Bixa orellana) que possui grandes folhas de cor verde-claras e flores rosadas com muitos estames. Os frutos são cápsulas armadas por espinhos maleáveis, que se tornam vermelhas quando maduras. Então se abrem e revelam pequenas sementes dispostas em série, 30 a 50 por fruto, envoltas em arilo também vermelho.
O corante é obtido das sementes que, após serem esmagadas, são mergulhadas em água. Por evaporação desta solução aquosa, obtém-se uma massa de intensa cor vermelha-alaranjada que é utilizada para tingir tecidos de algodão e lãs.
Açafrão
A açafrão (Carthamus tinctorius) é uma erva de caule esbranquiçado e folhas alternas espinhosas. É originária do Oriente e cultivada em Portugal na zona do Algarves onde é conhecida por açaflor.
O corante é obtido por lavagem das flores amarelo-avermelhadas com água, produzindo um amarelo mais puro e mais estável.
Considerações sobre os corantes naturais
É importante ressaltar que a maioria dos corantes naturais não possuem afinidade com as fibras têxteis, necessitando de compostos químicos que podem ser aplicados antes, ou após, a aplicação do corante. Esses compostos são conhecidos popularmente por mordentes, podendo ser o tanino ou ainda sais metálicos de ferro, alumínio ou compostos de alumínio e potássio.
Qual é a vantagem de utilizar o corante natural?
A maior vantagem desses corantes é que eles são obtidos de fontes renováveis, diferentemente dos corantes sintéticos, que são obtidos do petróleo.
Qual a desvantagem?
A maior desvantagem é a fraca solidez da cor em alguns quesitos, como a solidez à luz, por exemplo. Estudos recentes, no entanto, têm viabilizado o aumento da solidez da cor em uma combinação inovadora, onde a redução do consumo de água também teve um resultado muito importante. Estas pesquisas têm sido um ponto de partida para o desenvolvimento de pastas de estampar com o uso de corantes naturais.
Nelson Barros Trindade é Mestre em Têxtil e Moda (USP), Especialista em Administração (UNG), Bacharel em Ciências Econômicas (UBC), Técnico Têxtil (Cetiqt) e Técnico em Química (FOC). Possui experiência em docência no ensino superior e em pós graduação nas áreas de Administração, Moda, Tecnologia do Vestuário e no ensino Técnico Têxtil; também na administração de empresas de pequeno, médio e grande porte do setor têxtil, além de especialista em tingimentos artesanais com corantes naturais e sintéticos com treinamento na Índia, Peru e Brasil. Atualmente Especialista em Tecnologia e Projetos de Inovação do Instituto SENAI-SP de Tecnologia Têxtil, Moda e Confecção.
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